domingo, 20 de janeiro de 2013

O texto a seguir não pretende esgotar todo o assunto relacionado à República Baurete, seus integrantes, agregados e frequentadores, mas apenas dar uma visão generalíssima da coisa. Dito isso, espera-se que os comentários complementem e enriqueçam a his(es)tória.



BAURETE CASA ABERTA
por Guilherme Faraco


Logo acima da porta por onde se entra para a sala, é possível ler o brocardo latino erga omnes, que significa, basicamente, para todos, ou que se estende a todos. Assim é a Baurete - uma casa que recebe a todos.

O nome vem da alcunha dado por um artista monstro da música brasileira, que assim costumava chamar seus cigarrinhos. O espírito, cultivado pelos seus integrantes originais, os pilgrim fathers bauretianos, dá continuidade a uma tradição da arte boêmia da casa aberta, inaugurada, segundo alguns, por Vinicius de Moraes, no Rio de Janeiro, e há muito esquecida em terrae brasilis.

A casa, ou melhor, o espaço físico, é o de menos. Não há um solo sagrado para os bauretes. Há sim, uma sede, que não é fixa, e contabiliza-se dois êxodos realizados pelo seu povo - da casa I para a II, e desta para a III, onde agora plantam seus manacás e jasmins. Mas os bauretes levam seu estandarte para onde quer que vão, sejam bares ou ilhas distantes.

Hugo Bauretius, Giulius Bauretius e Mauricius Bauretius são os pais fundadores dessa pequena, porém orgulhosa nação.

O primeiro, Magnífico Anfitrião, Senhor das Terras, Grão-Semeador e Sumo-Pontífice, responsável pelas oferendas aos deuses da Sede e da Larica.

O segundo, Chanceler das Artes, Mestre dos Sons e Filósofo-mor, tem seu esplêndido busto e seu proeminente naso eternamente gravados em um mural, ao lado da tríade de questões que compõem o cerne de sua complexa e muito glosada filosofia. Também é responsável pelos ritos que dão início às Assembleias-Gerais, que consistem, fundamentalmente, em colocar uma cadeira de plástico em cima do Fusca e ligar para o Águas.

O terceiro é Guardião do Livro Das Leis Às Quais Nem Sempre São Respeitadas. Diz a lenda que essas escrituras não muito sagradas foram roubadas por Mauricius Bauretius, após estuprar as “virgens” que as protegiam, e trazidas de uma terra longínqua denominada pelos selvagens que lá habitam de UEL, onde os bauretes não atrevem se aventurar. As Escrituras servem, de fato, para o divertimento da população na ocasião em que são lidos alguns de seus artigos esdrúxulos, bem como de apoio para o preparo daquilo que dá nome à República, o que é terminantemente proibido pelas tais Escrituras.

As paredes da Casa Baurete III, templo profanado, encontram-se repletas dos mais variados escritos. Alguns (muitos, na verdade) não fazem o menor sentido para o estrangeiro não iniciado na linguagem falada e nas tradições dos bauretes. É possível identificar, porém, aforismos gregos (“γνῶθι σεαυτόν”), frases de Dante Alighieri (“Lasciate ogni esperanza voi ch’entrate”), de poetas portugueses e brasileiros, além dos afamados Versos Malandrinos (“Meu nome é Malandrão / e eu gosto de beijar na boca”).


Evento sagrado para os bauretes é a sua migração anual para a Ilha do Mel, que se dá no mês de outubro. Trata-se de verdadeira romaria, na qual o árduo caminho é trilhado em automóveis 1.0 e pode levar semanas, caso se percam em Curitiba ou na BR-101, o que, via de regra, acontece. Muitos bauretes perdem suas vidas durante a viagem, e não conseguem procriar. 

Outras datas importantes para os bauretes: as terças-feiras são guardadas para a peregrinação ao Valentino e o culto à Terça-Tilt. A Noite do Vininha, em homenagem ao Poetinha Vinicius de Moares, é celebrada na data que coincide com o solstício de inverno no hemisfério norte (aqui, solstício de verão), na qual os druidas se reúnem em Stonehenge. Nesta data, excepcionalmente, os bauretes se entregam ao consumo de uísque, substituindo os destilados habitualmente sorvidos, a saber, vinho da Quinta do Morgado, aperitivos de gengibre erroneamente referidos como “conhaque”, dentre os quais se destacam os da marca Domecq, Domus, Dreher, entre outros. Data comemoradíssima é o Natal Baurete, que nada tem a ver com a celebração cristã, sendo realizado no dia 09 de dezembro. Trata-se, de fato, de uma festa pagã onde uma fogueira é montada no intuito de se assar uma leitoa, que é comida no início da madrugada a título de ceia. Celebra-se, neste data, o nascimento do Cavalo Hilário. A casa toda é enfeitada com esmero, e presenças ilustres dão o ar da sua graça. Na última celebração, nada menos do que Carlos Camargo compareceu aos festejos! Espera-se, no ano que vem, o comparecimento de Joaquim Barbosa, e concerto ao vivo de Jorge Ben Jor, acompanhado pel’Os Mutantes.

Mas não vá pensar, ó leitor desavisado, que a Baurete é um paraíso terreno. Ledo engano! Os territórios pelos quais se estende a República Baurete são extremamente hostis, onde apenas os(as) mais fortes, dotados de um sistema imunológico extremamente bem desenvolvido, sobrevivem! Ademais, mister é ter a alma de um desapegado, coisa raríssimo nesta sombria era onde impera o materialismo! Vale ressaltar, outrossim, que a filosofia da Paz de Espírito foi há muito tempo rejeitada pelos bauretes, pois não são eles nem românticos nem utópicos, mas verdadeiros realistas e de certa forma, fatalistas. Não é a toa que, acima das Armas da República Baurete, encontra-se outra axioma em latim: “ERRARE HVMANVM EST”!

domingo, 13 de janeiro de 2013

O que os pais esperam dos filhos

- Filho, e aí? O que você tá pensando em fazer quando terminar a facu?

- Putz, pai... não sei, não.

- Não sabe? Mas você precisa saber. Você tem que fazer alguma coisa pra ganhar o seu dinheirinho.

- Eu sei, pai. Mas tá foda...

- Tá foda o quê?

- Ah, pai... sei lá, na real não queria fazer nada.

- Como assim, não queria fazer nada?

- É, pai. Eu queria ficar mais na boa.

- Ficar mais na boa?!

- Ah, pai... eu não gosto muito de trabalhar. Prefiro ficar mais tranquilo.

- Não acredito que você tá me falando isso. Com essa idade! Já era pra você tá ganhando o seu dinheiro! Porque com a sua idade...

- Eu sei, pai. Com a minha idade você já trabalhava. Mas eu não tô afim.

- Você tá afim do quê, então???

- Ah, pai... eu tô afim é de ficar olhando pra elas.

- Pra elas, quem?

- Pra elas, ué! Aquelas de quem você quis tanto que eu gostasse. E acho que você rezou tanto que eu quero elas o dia inteiro.

- Que isso? Mas você tá pensando o quê da vida, meu filho??? Não sei nem por que a gente tá falando disso. Você precisa trabalhar!

- Pai, mas eu não quero...

- Pelo amor de Deus! Você acha que ficar coçando o saco "na boa" e "olhando pra elas" vai te dar alguma coisa?

- Acho!