terça-feira, 19 de novembro de 2013

"Saibas iniciante fazedor de poemas,
Hábil na arte de usar hífens e tremas
De nada vale a junção de palavras,
inda que raras no dicionário;
se lhes faltar emoção, a poética entravas,
apesar de bom e rico vocabulário."

(Uma pequena dica do meu avô - Sebastião Nei dos Santos - aos meus versos primeiros) 

Para todos vocês.

Fábio

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Quando você chegar

Depois que dizeres teu nome, nunca mais esquecerei. Guardarei na minha lembrança, essa que vai fazer de tudo para levá-la para sempre. Estava à tua espera, e você chegou. Em todo esse tempo, por onde andou?

O que fez enquanto te esperava? Gostaria de saber o que viveu e aprendeu.

Agora, quero aprender com você, e te ensinar, também. Quero trocar, dar e receber – amor, doçura, olhares, tudo que merecemos, meu bem. Afinal, por tanto esperei, alguém que é tão difícil encontrar.

Mas Deus sabe a hora. Nele confiei toda minha espera. Irá valer a pena.

Quando você chegar, meus olhos irão te abraçar. Você irá sentir, e vai confiar.

Por toda a vida estarei com você. Iremos construir coisas juntos, viajaremos juntos, vou te levar pra Ilha. Lá, nós vamos nos amar, depois que eu te achar.

Você tem muito a me completar. Preciso de você, num fim de tarde de domingo, numa noite de segunda, todos os dias, o dia todo no universo do meu dentro.

Sem você não sou nem perto de ser eu. Preciso que vires tua luz em minha direção, que me olhe com emoção – como alguém que não acredita ter encontrado seu tesouro. Tu és o meu.

Quero sentir a liberdade de caminhar pelo teu corpo, e você gostar, se viciar. Quero que chores quando eu partir porque, pode acreditar, eu também vou chorar.

Quero que me ensines a cozinhar, ou aprendemos juntos. Quero te ver dormir, e saber que ninguém mais, no mundo todo, está como eu, naquele momento.

Quero te contar, me apoiar em você, e que você sinta o homem que tens ao teu lado. Como nos filmes, de armadura e espada a te proteger.

Não vais chorar, só quando eu me for. Só quando, por um instante, me perder. Você não vai querer, nem eu. Só quero ver você chegar.

Será tudo para quem já ama te ama, que andas perdida por aí. Mas não precisa inquietar-se: quando você chegar, vai ser encontrar.

A mim, quê posso dizer?

Não poderei me conter, em te ver, sua mão vou pegar, e te levar, pro alto do nosso lar ...


Fábio Blanco

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

As Putas Também Amam

As putas também amam


Ah! Mulher, menina!
Nua, forte, pensante
Moça decidida, linda e também amante

Como posso conquistar-te?
A sua fala medida me envenena
A sua dança incontida me embriaga

Qual o teu segredo?
Qual a tua história?

Deixa-me infiltrar nas entranhas de teus sentimentos
Deixa-me mergulhar no âmago do teu choro desavisado
Deixa-me sentir em teu peito o sangue pulsante de um sincero abraço

Puto que sou!
Puta que és!
Um casal embebido no egoismo da noite

O que me trará o amanhecer?
Um sorriso teu, apenas, há de ser


Por Guilherme Ladenthin

domingo, 30 de junho de 2013


Chá Verde



O dia virou noite

As ruas estão vazias

Vazio, o que está vazio?

O mundo? As pessoas?

Eu?



Uma bela árvore ilumina

este dia cinza.

Roxa, cor destoante de tudo

Do dia, do mundo, das pessoas

De mim.

 

O que é real?

O que não é?

 

A noite chegou

Nada mudou...


Por Guilherme Ladenthin

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Paz traíra do canto da sereia


Dia desses encontrei a Paz. Que nunca pensei encontrar.
Ela veio, se aproximou. Tímida, a afrouxar-se demorou.
Se apresentou. Pensei – será mesmo ela? Tão diante de mim?
Mais desatada, Ela chegou, sem que eu pudesse perceber
Me tocou, e fez sentir sua anestesia
Uma sereia parecia, com seu canto que seduz.
O êxtase não me veio. A Paz sim, profunda...
Pico do Monte Everest – serenidade do silêncio que ensurdece

Deixei-a me levar, pra onde quisesse. Não tive o que fazer
Por tanto esperei... merecia! E ela, cativava-me, mais!
Sim, desconfiei. Mas a Paz imperou
Não podia duvidar. Tive de deixá-la me levar
Deixei, e desabei. Precisava.
Não dava...

Divina, só quando não apunhala
Pelas costas
Ouvi o canto da sereia, e permiti-me seduzir
Sorte
O resultado não é morte
Vida nova!
Por vezes me tento ao calabouço
Eu sei. Não posso.
Meu mundo, agora, se abriu
Me apego se esvaiu
E eu, cresci.


Fábio Blanco

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Outro dia...

Um dia me vi preso à vida
Outro dia me vi livre dela.

Um dia me escutei chorando
Outro dia minhas lágrimas secaram.

Um dia me vi sonhando
Outro dia não me vi mais.

Um dia me vi amando
Outro dia não senti nada

Um dia, simplesmente, eu me vi.
Outro dia...


Por Guilherme Ladenthin

domingo, 20 de janeiro de 2013

O texto a seguir não pretende esgotar todo o assunto relacionado à República Baurete, seus integrantes, agregados e frequentadores, mas apenas dar uma visão generalíssima da coisa. Dito isso, espera-se que os comentários complementem e enriqueçam a his(es)tória.



BAURETE CASA ABERTA
por Guilherme Faraco


Logo acima da porta por onde se entra para a sala, é possível ler o brocardo latino erga omnes, que significa, basicamente, para todos, ou que se estende a todos. Assim é a Baurete - uma casa que recebe a todos.

O nome vem da alcunha dado por um artista monstro da música brasileira, que assim costumava chamar seus cigarrinhos. O espírito, cultivado pelos seus integrantes originais, os pilgrim fathers bauretianos, dá continuidade a uma tradição da arte boêmia da casa aberta, inaugurada, segundo alguns, por Vinicius de Moraes, no Rio de Janeiro, e há muito esquecida em terrae brasilis.

A casa, ou melhor, o espaço físico, é o de menos. Não há um solo sagrado para os bauretes. Há sim, uma sede, que não é fixa, e contabiliza-se dois êxodos realizados pelo seu povo - da casa I para a II, e desta para a III, onde agora plantam seus manacás e jasmins. Mas os bauretes levam seu estandarte para onde quer que vão, sejam bares ou ilhas distantes.

Hugo Bauretius, Giulius Bauretius e Mauricius Bauretius são os pais fundadores dessa pequena, porém orgulhosa nação.

O primeiro, Magnífico Anfitrião, Senhor das Terras, Grão-Semeador e Sumo-Pontífice, responsável pelas oferendas aos deuses da Sede e da Larica.

O segundo, Chanceler das Artes, Mestre dos Sons e Filósofo-mor, tem seu esplêndido busto e seu proeminente naso eternamente gravados em um mural, ao lado da tríade de questões que compõem o cerne de sua complexa e muito glosada filosofia. Também é responsável pelos ritos que dão início às Assembleias-Gerais, que consistem, fundamentalmente, em colocar uma cadeira de plástico em cima do Fusca e ligar para o Águas.

O terceiro é Guardião do Livro Das Leis Às Quais Nem Sempre São Respeitadas. Diz a lenda que essas escrituras não muito sagradas foram roubadas por Mauricius Bauretius, após estuprar as “virgens” que as protegiam, e trazidas de uma terra longínqua denominada pelos selvagens que lá habitam de UEL, onde os bauretes não atrevem se aventurar. As Escrituras servem, de fato, para o divertimento da população na ocasião em que são lidos alguns de seus artigos esdrúxulos, bem como de apoio para o preparo daquilo que dá nome à República, o que é terminantemente proibido pelas tais Escrituras.

As paredes da Casa Baurete III, templo profanado, encontram-se repletas dos mais variados escritos. Alguns (muitos, na verdade) não fazem o menor sentido para o estrangeiro não iniciado na linguagem falada e nas tradições dos bauretes. É possível identificar, porém, aforismos gregos (“γνῶθι σεαυτόν”), frases de Dante Alighieri (“Lasciate ogni esperanza voi ch’entrate”), de poetas portugueses e brasileiros, além dos afamados Versos Malandrinos (“Meu nome é Malandrão / e eu gosto de beijar na boca”).


Evento sagrado para os bauretes é a sua migração anual para a Ilha do Mel, que se dá no mês de outubro. Trata-se de verdadeira romaria, na qual o árduo caminho é trilhado em automóveis 1.0 e pode levar semanas, caso se percam em Curitiba ou na BR-101, o que, via de regra, acontece. Muitos bauretes perdem suas vidas durante a viagem, e não conseguem procriar. 

Outras datas importantes para os bauretes: as terças-feiras são guardadas para a peregrinação ao Valentino e o culto à Terça-Tilt. A Noite do Vininha, em homenagem ao Poetinha Vinicius de Moares, é celebrada na data que coincide com o solstício de inverno no hemisfério norte (aqui, solstício de verão), na qual os druidas se reúnem em Stonehenge. Nesta data, excepcionalmente, os bauretes se entregam ao consumo de uísque, substituindo os destilados habitualmente sorvidos, a saber, vinho da Quinta do Morgado, aperitivos de gengibre erroneamente referidos como “conhaque”, dentre os quais se destacam os da marca Domecq, Domus, Dreher, entre outros. Data comemoradíssima é o Natal Baurete, que nada tem a ver com a celebração cristã, sendo realizado no dia 09 de dezembro. Trata-se, de fato, de uma festa pagã onde uma fogueira é montada no intuito de se assar uma leitoa, que é comida no início da madrugada a título de ceia. Celebra-se, neste data, o nascimento do Cavalo Hilário. A casa toda é enfeitada com esmero, e presenças ilustres dão o ar da sua graça. Na última celebração, nada menos do que Carlos Camargo compareceu aos festejos! Espera-se, no ano que vem, o comparecimento de Joaquim Barbosa, e concerto ao vivo de Jorge Ben Jor, acompanhado pel’Os Mutantes.

Mas não vá pensar, ó leitor desavisado, que a Baurete é um paraíso terreno. Ledo engano! Os territórios pelos quais se estende a República Baurete são extremamente hostis, onde apenas os(as) mais fortes, dotados de um sistema imunológico extremamente bem desenvolvido, sobrevivem! Ademais, mister é ter a alma de um desapegado, coisa raríssimo nesta sombria era onde impera o materialismo! Vale ressaltar, outrossim, que a filosofia da Paz de Espírito foi há muito tempo rejeitada pelos bauretes, pois não são eles nem românticos nem utópicos, mas verdadeiros realistas e de certa forma, fatalistas. Não é a toa que, acima das Armas da República Baurete, encontra-se outra axioma em latim: “ERRARE HVMANVM EST”!

domingo, 13 de janeiro de 2013

O que os pais esperam dos filhos

- Filho, e aí? O que você tá pensando em fazer quando terminar a facu?

- Putz, pai... não sei, não.

- Não sabe? Mas você precisa saber. Você tem que fazer alguma coisa pra ganhar o seu dinheirinho.

- Eu sei, pai. Mas tá foda...

- Tá foda o quê?

- Ah, pai... sei lá, na real não queria fazer nada.

- Como assim, não queria fazer nada?

- É, pai. Eu queria ficar mais na boa.

- Ficar mais na boa?!

- Ah, pai... eu não gosto muito de trabalhar. Prefiro ficar mais tranquilo.

- Não acredito que você tá me falando isso. Com essa idade! Já era pra você tá ganhando o seu dinheiro! Porque com a sua idade...

- Eu sei, pai. Com a minha idade você já trabalhava. Mas eu não tô afim.

- Você tá afim do quê, então???

- Ah, pai... eu tô afim é de ficar olhando pra elas.

- Pra elas, quem?

- Pra elas, ué! Aquelas de quem você quis tanto que eu gostasse. E acho que você rezou tanto que eu quero elas o dia inteiro.

- Que isso? Mas você tá pensando o quê da vida, meu filho??? Não sei nem por que a gente tá falando disso. Você precisa trabalhar!

- Pai, mas eu não quero...

- Pelo amor de Deus! Você acha que ficar coçando o saco "na boa" e "olhando pra elas" vai te dar alguma coisa?

- Acho!