quarta-feira, 13 de junho de 2012

Qual é a origem do mundo?

Qual é a origem do mundo?
(A orgia do mundo)


Algumas vezes eu perdi o sono
Tremia
A saúde estava precária
A neblina penetrava o quarto
O cheiro da noite anterior
Ainda na cabeça

Algumas vezes eu perdi a cabeça
Falei, falei, falei;
E só depois pensei
O copo já estava quebrado
Metáforas inúteis

Algumas vezes eu perdi a esperança
...
Ponto final

Por Guilherme Ladenthin

terça-feira, 5 de junho de 2012


A OSUEL, sustentabilidade e o empreendedorismo público

por Guilherme Faraco.

A demanda por ingressos foi tão grande que a OSUEL (Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina) teve que organizar uma sessão extra, para satisfazer aqueles que não conseguiram retirar seus ingressos – sem custos - esgotados em 04 horas.

O concerto, no qual se apresentaram a OSUEL e a banda Beatles for Sale, foi realizado no Cine Com-Tour, devido à interdição da tradicional sede da Orquestra, o Teatro Ouro Verde, em razão do incêndio que destruiu parte considerável do antigo prédio desenhado por Vilanova Artigas.

O cinema, que possui capacidade para 470 pessoas sentadas, recebeu um público muito maior, no último domingo (03/06/2012), em duas sessões: a primeira, às 08:30 horas (sessão extra) e a segunda, às 10:00 horas.

Apesar do tema da apresentação ser um tanto apelativo – uma homenagem aos Beatles – concertos lotados (e gratuitos) não são de todo incomuns à história da OSUEL. Muito pelo contrário: se você pretende ir a uma apresentação da Orquestra, prepare-se para chegar com antecedência, sob pena de perder a viagem.

Pode-se pensar então que a OSUEL, orquestra prestigiada, com diversos concertos agendados, casa de músicos renomados e de um maestro conceituado, passa por um momento excelente de sua história. Ledo engano: a realidade atual é de crise.

Nunca houve um desfalque de músicos tão grande na Orquestra. Isto se dá principalmente por uma política do governo do Estado, que não abre concurso público para contratação de músicos há mais de 08 anos. E com a previsão de aposentadoria de outros tantos, a sinfônica corre o risco de se tornar uma orquestra de câmara.

Acrescente-se a recente destruição do Teatro Ouro Verde, deixando a OSUEL sem uma sala para ensaios e destituída de seu principal palco de apresentações, bem como a falta de parceiros privados (os quais, pelo menos em Londrina, parecem nunca ter ouvido falar na expressão “função social da empresa”). O financiamento da Orquestra advém exclusivamente do Estado, por intermédio da Casa de Cultura da UEL.

É possível afirmar categoricamente que a vida cultural da cidade de Londrina gira em torno da Universidade Estadual de Londrina, senão vejamos: o Teatro Ouro Verde, que pertence à UEL, é a maior sala de espetáculos da região; o Cine Com-Tour é o único cinema onde são exibidos filmes fora do eixo comercial – estes últimos [filmes comerciais] prestam, de fato, um desserviço à cultura; a rádio UELFM - 107,9, também é a única digna de ser ouvida num raio de 400 km (acredito que o sinal desta não tenha tanto alcance); o FILO (Festival Internacional [de Teatro] de Londrina) e o FML (Festival de Música de Londrina) não são organizados pela Universidade, mas ali nasceram e dela dependem para a sua sobrevivência; os mais expressivos e conceituados congressos profissionais são organizados no âmbito da Universidade; a Biblioteca Central (BC) da UEL é a maior da região, e, juntamente com as bibliotecas setoriais (BS-CH, BS-CCS, BS-COU e BS-EAAJ) formam o melhor acervo de livros do interior do Paraná – no que tange aos títulos jurídicos, possivelmente a UEL possui um dos mais completos acervos do país; etc...

Gostaria de deixar aqui um questionamento, do qual tratarei em um próximo texto: o que as outras instituições de ensino de Londrina (e não são poucas) têm feito pela cidade, além de formarem profissionais, muitos dos quais de qualificação duvidosa?

Retomo o assunto com outra pergunta: é concebível que uma orquestra com apresentações constantemente lotadas esteja numa situação de crise? De fato, o Estado e a sociedade civil não colaboram muito...mas porque a OSUEL não cobra pela entrada nos concertos?

A OSUSP (Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo), por exemplo, cobra até R$60,00 pelo ingresso individual, além de oferecer uma assinatura, que compreende diversos pacotes de concertos, cujos preços variam de R$42,00 – 04 concertos, balcão superior – a R$420,00 – 09 concertos, balcão mezanino (Fonte: http://www.usp.br/osusp/assinaturas2012.html).

“A cobraça de ingressos limitaria a entrada de pessoas que não podem pagar para assistir a um concerto”, alguém diria. Será verdade? Qual o público da OSUEL? Seria o Zé do Caroço, que mora a 15 km do Ouro Verde e toma duas conduções para chegar até o centro da cidade?

Infelizmente, o Zé do Caroço não vai a concertos. O público da Orquestra é composto pela classe média-média e média-alta, e que vai ao Teatro porque gosta de música, e não por ser de graça. Não vejo estas pessoas esperneando por terem de pagar R$10,00 para assistir ao concerto.

Contudo, criou-se no Brasil um costume de se considerar o que é público como se particular de cada um fosse, e que pagar para utilizar algo público seria então uma espécie de bis in idem. O brasileiro paga imposto, e paga muito. Assim, se justifica a animosidade em relação à possibilidade de o indivíduo comprometer ainda mais seu patrimônio em favor de um Estado comprovadamente irresponsável com os destinos de sua vultosa arrecadação.

Acredito que as instituições públicas devam ser sustentáveis, não apenas ecologicamente, mas no sentido financeiro. Suas contas devem fechar. A UEL quebraria em menos de um mês se tivesse de se virar com seus próprios recursos.

A criação de um espírito empreendedor nas instituições públicas é medida que se impõe, sem embargos à acessibilidade e à sua função social, permitindo assim um reinvestimento em si mesmas. E isto se aplica à OSUEL, capaz de gerar renda própria e de erguer-se com seus próprios pés do lamaçal da burocracia.  


(Zé do Caroço, música de Leci Brandão e interpretada por Mariana Aydar).